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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Dinâmica demográfica: livro aponta tendências da população brasileira

via FPA


Capítulos do livro Novo Regime Demográfico - uma nova relação entre população e desenvolvimento?, lançado no dia 18 de novembro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destacam as principais tendências da população brasileira para os próximos anos, quais sejam, sua redução e superenvelhecimento, resultado da queda da fecundidade e da mortalidade em curso no país desde a segunda metade do século 20.

Um dos capítulos do livro (“Desigualdades na dinâmica demográfica e as suas implicações na distribuição de renda no Brasil”) mostra que, muito embora a queda tanto da fecundidade quanto da mortalidade tenha atingido todas as regiões e grupos sociais do país, ela não ocorreu com a mesma intensidade em todos estes espaços e grupos: os pesquisadores dividem a população por cinco estratos de renda (de acordo com as proporções da renda acumulada em cinco categorias: 10%, 20%, 40%, 60% e 100%), comparando os anos de 1980 e 2010, para responder qual seria a distribuição de renda da população brasileira se a dinâmica demográfica não tivesse experimentado nenhuma mudança nos 30 anos considerados e como a população brasileira se comportaria, no médio prazo, mantido o atual regime demográfico.

No Brasil, a menor renda está associada a fecundidade e mortalidade mais elevadas e maior crescimento populacional, com maior contingente de jovens neste grupo. O gráfico abaixo mostra a queda da fecundidade total, comparando dados dos anos de 1980 e 2010 por estratos de renda. Observa-se que a fecundidade declinou em todos os estratos, mas de forma mais acentuada entre os mais pobres (estrato 1): de 6,7 filhos por mulher, em 1980 para 2,7 filhos em 2010. As mulheres do estrato 5 (de maior renda) já apresentavam, em 1980, uma fecundidade de 1,9 filho, abaixo do nível de reposição, e que reduziu para 1,0 filho em 2010. As pesquisadoras apontam que isso talvez indique uma convergência dos níveis de fecundidade da população brasileira.





Outra variável que influencia a dinâmica da população dos diversos estratos de renda é a mortalidade, também muito afetada pelos níveis de renda. Parte do efeito da fecundidade elevada no segmento de renda mais baixa é anulado pela mortalidade mais elevada. O inverso ocorre com a população de renda mais alta.

Segundo as pesquisadoras, embora não haja variações expressivas na composição da população por estratos de renda entre 1980 e 2010, esta composição poderia ser muito mais concentrada caso a fecundidade não houvesse caído e nem tivesse havido mobilidade social e apontam que o efeito da queda da fecundidade parece ter sido mais expressivo que o da mobilidade em seu papel de se opor à concentração da renda. Mas apontam que, na ausência de mobilidade social, a manutenção do regime demográfico vigente em 2010 poderá levar a aumentar a concentração da renda.

A população de todos os estratos está crescendo a taxas menores e envelhecendo aceleradamente: crianças e jovens já estão crescendo em ritmo menor que o da população idosa. Assim, pode-se esperar para as próximas duas décadas uma diminuição da população de todos os estratos de renda com exceção do primeiro, o que coloca desafios para as políticas públicas, tanto para políticas específicas para jovens e idosos pobres quanto mecanismos para a sustentabilidade dos mecanismos de transferências intergeracionais tradicionais. Essa discussão, segundo as pesquisadoras, não pode desconsiderar que os idosos do futuro são os jovens pobres de hoje.



Para ler mais:

Camarano, A. A.; Kanso, S.; Barbosa, P.; Alcântara, V. S. (2014) 
Desigualdades na dinâmica demográfica e as suas implicações na distribuição de renda no Brasil in Novo regime demográfico: uma nova relação entre população e desenvolvimento? /
 Ana Amélia Camarano (Organizadora). – Rio de Janeiro: Ipea, 2014.

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