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sábado, 24 de janeiro de 2015

À beira do racionamento, procura-se plano de emergência em São Paulo

Empresas, hospitais e hotéis não têm um plano B no caso de água faltar na cidade

no El País

Enquanto o presidente da Sabesp Jerson Kelman assume que pode interromper o fornecimento total de água durante horas ou impor quotas individuais de consumo, é difícil achar alguém com um plano B para garantir o abastecimento. Tão difícil que cerca de 95% dos hospitais, empresas, industrias e hotéis de São Paulo não têm um plano de contingência para enfrentar um possível desabastecimento, segundo um levantamento do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada (CPDEC) realizado entre outubro e novembro de 2014. Os poços artesianos e os caminhões-pipa são considerados medidas emergenciais, mas há silêncio quando questionados sobre se esses recursos falharem.
“Os resultados, baseados nas respostas de 137 entrevistados, revela que qualquer desabastecimento vai ter um impacto direto na produção ou nos serviços, porque hoje a situação é mais grave de quando enviamos os questionários, quando ainda existia a esperança de meses de muita chuva”, afirma o professor e coordenador do estudo Rodnei Domingues. Hoje, imersos na temporada menos chuvas desde 1969, 68% dos paulistanos relata falta de água, segundo a última pesquisa do Ibope.
A equipe de Domingues, em parceria com o Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp, contatou 17 hospitais e conclui que todos eram abastecidos exclusivamente pela companhia regional de abastecimento (Sabesp, Sanasa, de Campinas, e outros). “100% dos entrevistados afirma que o plano de contingência envolve apenas recorrer ao abastecimento por caminhão-pipa ou pelos bombeiros. Nenhum deles conta com sistema de reuso de água”, afirma o estudo.

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Dos cinco grandes hospitais da cidade, contatados por este jornal, apenas três responderam sobre seu planejamento diante a crise hídrica. O Hospital São Luiz, que conta com quatro unidades e cerca de 1.000 leitos, não reconhece que não tem um plano de contingência, mas afirma que está elaborando um. OHospital Edmundo Vasconcelos, com 157 leitos, informou que 65% do seu consumo provem de um poço artesiano, mas se ele falhar o último recurso é a Sabesp: “Um acordo prevê a disponibilização de recursos hídricos extras, ofertados por meio de caminhão-pipa para suprir a demanda do Hospital”, explica em um comunicado onde afirma que desde 2008 desenvolve, sim, um processo de reuso da água que representa uma economia do 30%. O Sírio-Libanês, com 431 leitos, afirma que conta com fontes alternativas à Sabesp –poços e caminhões-pipa – e que abastece os sistemas de climatização graças a um tratamento de esgoto. Uma estação de tratamento de água está sendo construída no hospital.
“Quando eles dizem que têm um plano de contingência não significa que tenham uma solução real para a falta de água. Não existem nem caminhões suficientes para abastecer toda a potencial demanda. Não podemos contar com os caminhões, como também não podemos contar com poços artesianos, pois já identificamos uma quantidade significativa deles que secaram”, lamenta o professor Domingues.
Nas empresas o cenário é ainda mais precário. Segundo a pesquisa, das 49 companhias, de médio e grande porte, todos reconheceram não ter um plano de contingência. NoCentro Empresarial de São Paulo, por exemplo, um complexo construído na “vanguarda tecnológica” que acolhe 60 grandes empresas e um shopping, 75% do consumo provêm dos seus poços. No caso de eles secarem ou registrarem falhas, a alternativa é conhecida: o caminhão-pipa.
“Um plano de contingencia seria a instalação de um sistema de reuso”, esclarece o professor. “O reuso é um investimento viável, que pode ser instalado em seis meses, ou em um ano, se for mais complexo. Tem que considerar que, sem desabastecimento, em três anos a empresa pode recuperar o investimento, mas se faltar água, um impedimento na produção vai gerar um prejuízo muito significativo”, afirma Domingues. Dos 137 entrevistados para elaborar a pesquisa, apenas 12,4% reutiliza água como recomenda o professor.
Nos hotéis, o plano de contingência parece um termo mais familiar pois 56,25% dos 16 entrevistados afirma ter um: recorrer ao abastecimento do caminhão-pipa.O estudo detectou também que a dependência dos poços não garante o abastecimento. Na indústria paulista, onde 61,8% das empresas contam com pelo menos um poço artesiano, quase 15% deles se secaram nos últimos meses. Nenhum dos 55 representantes das indústrias entrevistados, segundo a pesquisa, possui um plano de emergência se as torneiras secarem.

O senhor das torneiras do Copan

M. M.

ALAN WEINTRANB
Afonso Celso, síndico do edifício Copan, uma colmeia humana de 1.160 apartamentos, restaurantes, lojas e lavanderias, tem os números da água na cabeça. O prédio do centro, que gasta uma média de 15.000 m3 por mês –seis piscinas olímpicas ­– e conta com um milhão de litros de água de reserva em 12 caixas de água, é hoje abastecido apenas seis horas por dia, segundo Celso.
“Acredito que a única solução que tenho vai ser reduzir o fornecimento de água nos apartamentos”, lamenta o síndico. As unidades menores do Copan contam duas torneiras, enquanto as maiores com até cinco. “Se o racionamento aumentar, vou poder fornecer apenas um ponto de água”, adianta. “Eu tenho como armazenar 1.000 litros de água por dia, mas eu não tenho condição de receber tudo isso pois demoro até 20 horas em preencher as 12 caixas inteiras. Antes recebia água 24 horas por dia, depois 12 e hoje seis”, reclama.
O Copan não conta com poço artesiano, segundo o síndico, pois a nascente está contaminada. Em troca, o prédio apostou pela mudança gratuita das cisternas por outras de menor gasto, o reparo gratuito das torneiras com vazamentos e as campanhas de redução de água. “Em três anos reduzimos a mais da metade nosso consumo, ganhamos o bônus da Sabesp”, se orgulha Celso.

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