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domingo, 18 de outubro de 2015

Sobre o "Dia do Médico"




A médica Júlia Maria Simão da Rocha, de 32 anos, já se acostumou a ter vida dupla. “Meu marido sabe e me incentiva muito”, diverte-se a belo-horizontina residente em Pará de Minas, na Região Centro-Oeste do estado, que, além de profissional especializada em medicina de família e comunidade, é sambista e vai fundo na carreira de cantora. Há um ano, Júlia Rocha, como é mais conhecida, ganhou público em outra área, a internet, ao escrever pequenas histórias numa rede social sobre cenas presenciadas e vividas na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Providência. “Agora tenho vida tripla, até me surpreendo com a quantidade de visualizações. O primeiro post (texto) teve 33 mil curtidas”, conta a médica, cantora e escritora, com tempo apenas na hora do almoço para falar da vida e dos planos.



Cena descrita por Júlia Rocha em sua estreia na internet



Daí, que um paciente de 57 anos entra no consultório, de cabeça baixa, e me conta que há 5 meses vem perambulando de médico em médico no seu convênio sem solução do seu problema:


Paciente:

“Eu fico pensando, em casa, nas coisas que eu quero falar para o médico mas, quando chega a hora da consulta, não dá tempo. O médico me pediu exame sem me examinar e disse que o que eu tenho é pedra nos rins. Disse que eu tenho que operar, me deu um remédio pra dor e pediu mais exames.”

Eu:

“E por que o senhor não falou o que precisava falar?”

“Fico sem jeito, porque esse negócio de dinheiro é complicado. Ele precisa chamar mais gente, né. Eu não posso tomar muito do tempo dele.”

“Então, hoje, eu quero que o senhor fale tudo que o senhor pensou em casa. Pode ser?”

“Estou emagrecendo muito e sentindo muita dor na barriga (…)”, queixou-se ainda de sintomas urinários.

Examinando... uma tristeza atrás da outra. Massa abdominal dura feito pedra e um fígado enorme... Emagrecimento de 17 quilos nos últimos 4 meses, sem ter feito esforço para isso. Pra quem não é médico, um paciente consumido, provavelmente, por câncer.

E o pior ainda está por vir:

Depois de 25 minutos de consulta, VINTE E CINCO MINUTOS, orientações feitas, exames pedidos com prioridade máxima, estendo minha mão e digo: “Temos um caminho longo pela frente, mas estaremos juntos, certo?!”

E ele me respondeu: “Esta foi a consulta mais longa da minha vida. E se eu passar ao seu lado na rua, você vai me reconhecer, né. Porque você olhou no meu rosto o tempo todo. Isso é legal... (olhos marejados – e eu também). Doutora, ninguém nunca examinou minha barriga. Muito obrigado!”

E eu pensei: “Eu que te agradeço...” Ele saiu, eu fechei a porta, chorei 3 minutinhos (pensando na minha vida) e chamei o próximo.

E viva a MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE, que me ensinou que posso chorar, só um pouquinho, levantar a cabeça e chamar o próximo. Sempre haverá o próximo. E desta vez, o próximo era uma criança linda e saudável!

Amém!

Em tempo: isso foi um desabafo... faço isso, às vezes, pra não ficar doente. Não é uma crítica a nenhum colega em especial, mas dá pra ver que grande parte da tecnologia que precisamos pra ajudar nossos pacientes está em nós. Mãos,

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